Changes

Eu lembrei da existência desse blog e decidi reativa-lo de vez, pois necessito de prática de escrita. Deletei quase todos os posts antigos e deixei um ou dois ainda vivos e o motivo é meio que óbvio.

Ao longo dos anos eu mudei bastante de opinião sobre diversos assuntos e estou constantemente mudando, ainda bem. Que chato seria ficar empacada que nem uma mula repetindo frases que eu dizia a 10 anos atrás. Não, só de pensar nessa possibilidade fico com coceira no corpo inteiro.

Lembro quando fiz uma redação sobre Quem Sou Eu e sinceramente aquela foi a melhor redação da vida e o motivo foi porque eu disse em várias palavras bonitas e com bastante citações que eu não sei quem eu sou. Ninguém sabe quem somos, vivemos em uma sociedade fragmentada e tudo ao nosso redor muda de forma tão rápida e constante que é difícil definir nossa identidade no meio dessa inconstância toda.

Lógico que possuo um nome, uma certidão de nascimento, uma carteira de identidade e até carteira de motorista, mas o que diz isso sobre mim além de me dar números e mais números para decorar? Não sou meu nome, não sou esses números que o governo me dá para me controlar. Eu, assim como você e assim como todos, somos um universo, universos diferentes e em constante mudança.

Já tive tantas personalidades na vida que nem sei mais e já conheci várias personalidades de diferentes amigos meus no decorrer desses anos e ainda assim sinto que hoje acordei totalmente diferente de como era ontem quando fui dormir. E que bom. Estou bem aliviada por isso e espero que amanhã eu seja ainda melhor do que sou hoje.

Querida mamãe, eu não preciso de amor romântico para me sentir inteira. Eu sou o bastante.

Mamãe,

Todos na minha aula ficam escrevendo sobre amor,
Se apaixonar e desapaixonar,
Amor desejado e amor indesejado,
E a lista continua…
Eles me parecem crianças que aparentam ter dificuldade em compreender diferentes tópicos nesse mundo complexo.
Bem, não é que eles não compreendem algum outro aspecto desse universo,
Mas eles não se importam muito com outras coisas.

Por que eles agem como se entendessem amor?
Eles não sabem o fato que o amor teme ser entendido?
Eles tentam jogar a desilusão deles em mim,
Me informando como o amor é a coisa mais poderosa na Terra,
Como o amor é a resposta para todos os problemas,
Como o amor é o que preenche o vazio que todos tem.

Mamãe, agora eles estão fabricando conto de fadas
E eu estou fabricando histórias de revolta e guerra,
Eles estão escrevendo sobre o príncipe na armadura reluzente e o amor verdadeiro deles,
Eu estou escrevendo minha fascinação com as diferentes perspectivas sobre a vida pós morte.

Mamãe, eu não entendo a obsessão deles com amor.
Eu estou começando a questionar o objetivo de vida deles,
O objetivo é apenas casar e ter uma família?
Nós fomos educados nas sociedades que te condicionam a pensar no amor como uma grande necessidade na vida?
Nós crescemos imaginando com quem nós vamos ficar no final,
Imaginando quantas crianças nós teremos
Imaginando com quem nós iremos envelhecer
Imaginando ter alguém especial a quem pertencer.

Mas mamãe,
E se eu me pertencer?
E se eu não sonho em encontrar alguém para preencher o vazio?
E se eu gostar do vazio?
Não necessariamente gostar do vazio, mas gostar da busca de me preencher com conhecimento, curiosidade, liberdade, paixão, paz, felicidade, caos…
Ao invés de fantasiar em casar,
E se minha fantasia é sobre estabelecer uma carreira?
Sobre publicar um pequeno livro,
Sobre ter animais de estimação – um cachorro e um gato ou até mesmo um lagarto.
Sobre a criação do meu próprio enorme estúdio de arte.
Sobre explorar o mundo o tanto que eu puder.

Mamãe,
Por que sou considerada tão diferente das pessoas impulsionadas pelo amor?
Por que sou zombada por não me importar sobre o tipo de amor deles?
Por que recebo olhares estranhos quando digo que não tenho nenhum interesse em estar com alguém?
E até quando cubro minha afirmação anterior explicando como “eu não ligo de ficar sozinha se eu não achar alguém com quem eu esteja confortável.”
Ah não, eu ainda sou considerada incomum.

Mamãe,
Me diga por que eu sinto como se um punhal me perfurasse no meio quando eles me dizem que eu deveria mudar minha perspectiva.
Quando eles dizem que não é bom ser tão independente,
Quando eles dizem que eu não deveria ser grossa com os caras que dão em cima de mim.
Quando eles dizem que não deveria achar conversas fiadas tão ridículas.
Quando eles dizem que eu deveria deixar a lógica de lado e seguir meu coração.

Por que eles não entendem que o que eles chamam de “coração” na verdade não sente?
Eles sabem que nossas emoções na verdade partem do nosso cérebro?
E então e se eu achar que emoções me fazem agir irracionalmente?
Então e se eu não ajo por impulso?
Então e se eu não gosto de expressar meus sentimentos verbalmente?
Então e se eu inibir minhas emoções?
Por que você assume que eu não tenho nenhum sentimento quando eu não respondo gritando com você em uma discussão?
Quando eu não deixo você me beijar,
Quando eu não expresso felicidade exageradamente,
Quando eu recuso falar com você quando estou brava ou triste?
Hein?
Talvez eu seja do jeito que sou porque sou consumida pela ansiedade, pela tristeza, pela felicidade, pelo medo, pela coragem.
Talvez eu seja um enorme pacote de emoções.

“Mas se você é uma pessoa tão emocional, então você DEVERIA estar atrás de amor”
Sim, isso é o que eles me disseram, mamãe.

Então eu disse a eles que temo o amor,
E eu temo me apegar
E eu temo perder minha personalidade independente para alguém que não consegue seguir sua vida se não estiver ao lado do seu amor.
Eu disse a eles que não gosto de imaginar alguém para “me completar”.
Eu disse a eles que já sou inteira,
Eu disse a eles que eu não sou.
Eu disse a eles o cliché “eu escolhi me amar.” explicando como na minha mente tudo eventualmente faz sentido quando você se ama.
Mas eles riram e reviraram os olhos.

Então, mamãe
eles ainda estão escrevendo sobre amor na aula,
E eles ainda agem como se entendessem o amor
Eles ainda estão me olhando estranho e dizendo que devo mudar.

E tudo que eu penso é que na realidade o amor é uma noção criada pelos humanos
E se eles nunca tinham visto o que o amor é retratado
Ou ouvido o que o amor é considerado para sentir ou ser.
Então “amor” – a necessidade da vida como eles se referem
Não iria nem existir.

Sumer Ziady